Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em parceria com o
Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthcare
Improvement (IHI) lançaram, na última semana, a campanha “A hora do
bebê: Pelo direito de nascer no tempo certo”, que tem como objetivo
incentivar o parto normal e conscientizar as futuras mães e toda a rede
de atenção obstétrica sobre os riscos da realização de cesáreas sem
indicação clínica.
A campanha foi lançada perto do início do mês de dezembro porque,
segundo dados da ANS sobre partos realizados por beneficiárias de plano
de saúde, há redução de cesarianas no final de dezembro e aumento no
período anterior ao Natal. Os números mostram que há antecipação dos
nascimentos que ocorreriam na época das festas de fim de ano.
Números mostram que há antecipação dos nascimentos que ocorreriam na época das festas de fim de ano. |
Agendamento de partos
De acordo com a ANS, em 2017, a média de cesarianas na semana de 24 a 31
de dezembro foi 20% menor do que a média semanal do ano, enquanto a
média entre 16 e 23 de dezembro foi 9% maior do que a média anual. Isso
indica agendamento dos partos que ocorreriam na semana entre Natal e Ano
Novo. Em 2016, houve diminuição de aproximadamente 40% no número de
cesáreas realizadas no período de 24 a 31 de dezembro, comparado com a
média semanal de cesarianas.
Segundo a ANS, há evidências científicas de que bebês nascidos de
cesarianas são internados em UTI neonatal com mais frequência e, quando
não há indicação clínica, a cesariana pode aumentar o risco de morte da
mãe e as chances de complicações respiratórias para o recém-nascido.
Isto porque, se o parto for realizado antes das 39 semanas de gestação, o
nascimento pode ocorrer sem a completa maturação pulmonar do bebê, além
de o trabalho de parto também completar o ciclo de amadurecimento do
bebê.
Parto natural
Além disso, a passagem pelo canal vaginal, na hora do nascimento, coloca
o bebê em contato com bactérias naturalmente presentes nessa área do
corpo da mulher, fortalecendo seu sistema imunológico. O trabalho de
parto completa o ciclo de amadurecimento do bebê: a intensificação
gradual das contrações musculares do corpo da mãe favorece a prontidão
para o nascimento e o contato com o mundo, uma vez que ritmo cardíaco,
fluxo sanguíneo e maturação pulmonar são gradativamente trabalhados no
corpo do bebê. Além disso, hormônios naturalmente atuantes durante o
trabalho de parto favorecem o vínculo entre mãe e bebê, o aleitamento
materno e a recuperação pós-parto.
“Não há evidências que justifiquem o agendamento de uma cesariana, salvo
algum risco claro para a saúde da mãe e do bebê. É importante que a
gestante tenha o apoio de médicos, enfermeiros e demais profissionais
que acompanham o pré-natal, para entender as opções de parto e fazer a
escolha de forma consciente”, disse a especialista em regulação de saúde
suplementar e coordenadora do Projeto Parto Adequado, Jacqueline
Torres.
Cultura de agendamento
Segundo Jaqueline, o Brasil tem uma cultura muito grande de agendamento
de cesarianas por motivos não clínicos, permitindo que isso aumente na
época de festas de final de ano, justamente por conta da mudança na
rotina e por muitos profissionais saírem de férias. Ela reforçou que
esse processo e seu agendamento são bastante comuns no Brasil porque o
sistema de saúde do país está organizado para produzir cesáreas, e a
forma como esse modelo foi desenhado estimula que os profissionais
médicos tenham que agendar as operações para conseguir fazer todos os
partos.
"Nosso modelo de assistência foi organizado de tal maneira que é muito
difícil que a mulher consiga ter um parto normal, porque ela se vincula a
um único médico, que é responsável pelo pré-natal e pelo parto, sem que
ele tenha um apoio de uma rede de serviços, como outros médicos,
enfermeiras obstétricas. E isso impede o acompanhamento de um evento que
é tão incerto e não tem hora para acontecer".
Mudança de modelo
Para Jaqueline, o que pode mudar esse quadro são ações em várias
frentes, começando por reorganizar o modelo de cuidado, com
multiprofissionais voltados para as práticas humanizadas, passando pelo
comprometimento dos hospitais com a mudança desse modelo e priorizando a
qualidade do atendimento à paciente. "Precisamos também dar mais
informações para as mulheres e permitir que elas opinem mais junto aos
serviços de saúde para melhorar a qualidade e a experiência de parto
dessas mulheres".
Segundo ela, uma das maneiras de convencer as futuras mães de que o
melhor é não agendar as cesáreas para antes ou depois do período de
festas de final do ano, apenas para ter o feriado livre, é esclarecer
que, apesar de muitos resultados bons e felizes, acontecem situações que
a maioria das pessoas não conhecem.
"Acredito que nenhuma mãe vai querer arriscar ter um filho na UTI
neonatal, ou algum problema até mais grave para o bebê, por conta de um
feriado. Quando a mulher está bem informada, ela faz escolhas melhores.
Mas não adianta estar bem informada, se não encontra um sistema que
acolha essa vontade de ter um parto normal”.
De acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, dos
169.350 bebês nascidos vivos na rede municipal em 2017, cerca de 17,7
mil eram prematuros, ou seja, nasceram com menos 37 semanas de
gestação. Agência Brasil
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