Quando se trata da sexualidade feminina, existe um descompasso entre o discurso e o comportamento. Dados levantados pela antropóloga Mirian Goldenberg para um estudo sobre o uso da camisinha revelam que as mulheres ainda têm vergonha de comprar o produto e de andar com camisinha na bolsa, o que, muitas vezes, leva ao não uso do preservativo. Para 42% das entrevistadas é muito desconfortável adquirir o produto, e 37% se sentem julgadas no momento da compra.
"Ao mesmo tempo que existe um discurso libertário, de que a mulher pode tudo, há esse constrangimento. A vergonha parece estar relacionada ao medo de serem julgadas como promíscuas, enquanto os homens não sofrem o mesmo julgamento. É a dupla moral sexual: os homens são mais livres sexualmente e até mesmo estimulados a terem uma vida sexual ativa e diversificada. Já as mulheres ativas sexualmente seriam representadas socialmente de forma muito negativa, sofrendo inúmeras acusações, tais como: promíscuas, galinhas, fáceis, periguetes, etc.”, explica a antropóloga. Os homens não sentem esse peso e 72% declararam achar natural e tranquilo comprar camisinha.
"A gente acreditava que esta era uma geração que já nasceu usando camisinha, e que as mulheres teriam esse preocupação maior em se proteger. No entanto, o que encontramos foram mulheres que se sentem mal ao comprar e ter preservativo. Elas relatam contrangimento e olhares de julgamento dos atendentes, inclusive mulheres", analisa Mirian. O mais preocupante é que essa vergonha de comprar é maior (49%) entre a faixa de 18 a 24 anos, que está começando a vida sexual. "Ter vergonha de se proteger parece meio inconcebível. Por que ter vergonha de algo que deveria ser uma obrigação de todas as mulheres, esse cuidado consigo mesma?" R7
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