'O mundo passa agitado, e eu tão triste... Sozinho na multidão'. A letra da música de Luiz Airão, retrata bem um dos males que cresce a cada dia no Brasil e no mundo: o isolamento social. Um desequilíbrio comportamental, no qual o indivíduo deixa de participar, voluntariamente ou não, de atividades em grupos, como os de família, trabalho e entretenimento. O transtorno, porém, que pode ser até fatal, tem tratamento.
Parece antagônico, mas especialistas alertam: quanto mais as pessoas se conectam ao mundo virtual, mais afastadas do convívio social estão ficando. O fenômeno desencadeia graves problemas de saúde, como ansiedade, depressão e suicídio. A comunidade médica já fala em epidemia e garante que, se a sociedade não se atentar, o isolamento social terá mais casos que indivíduos obesos no planeta.
"O mundo virtual afasta as pessoas do contato físico, do toque de pele, do abraço, da sensação de pertencimento, enfim, de sensações boas de aconchego e proteção, fundamentais para o bem-estar. Rejeições em grupos como os de WhatsApp e Facebook, por exemplo, podem resultar em isolamento social", advertiu o psicólogo João Alexandre Borba. "Os mais velhos, por se sentirem desprezados por familiares, e adolescentes, pelos próprios conflitos da idade, agravados pelos desentendimentos nas redes sociais, são os mais afetados", alertou João, lembrando que doenças graves, como a Aids, e bullying, podem também levar a isolamentos.
Pesquisa da Universidade de Pittsburgh (EUA), com 1.787 estudantes, de 19 a 32 anos, ligados a 11 redes sociais, mostrou que os que passavam mais de duas horas diárias em conexão virtual, tiveram o dobro de chances de desenvolver afastamento social. A mesma possibilidade ficou explícita, em até três vezes mais, para os que acessavam plataformas digitais até 58 vezes por semana ou mais.
Para reverter quadros de isolamento social, terapias individuais e de grupos são indicadas. "Atividades em companhia de outras pessoas, trabalhos voluntários, em que o paciente se sinta útil, no mundo real, é a melhor saída", comentou João, que recomenda ainda caminhadas e hidroginástica. Em casos extremos, porém, são necessários medicamentos. "Conheci um paciente que se isolou tanto, a ponto de viver num quarto e urinar em garrafa pet".
Os primeiros sinais de isolamento social aparecem quando o paciente passa a evitar, de forma mais prolongada, festas, eventos, passeios e reuniões de amigos e familiares. O psiquiatra Lucínio Novaes, aponta que existem diferenças, entretanto, entre solitude e solidão. "Solitude é um estado de privacidade que não significa solidão. Como ir ao cinema sem acompanhante. Já a solidão se caracteriza pelo sentimento de abandono e falta de conexão com o mundo e com o próprio indivíduo", distinguiu.
Especializado em 'detox digital', o pesquisador Eduardo Guedes, do Grupo Delete, do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ, atesta o aumento da busca de tratamento para a compulsão por games, aparelhos eletrônicos e celulares. De cada dez atendimentos que o Ipub faz, mais de 30% são relativos a pessoas com vícios em mídias digitais. O Instituto Delete atendeu mais de 500 pessoas em três anos, boa parte com problemas de coluna, visão e tendinite. "Muitos negligenciam atividades básicas e essenciais, como tomar banho e comer, para ficar mais tempos nos aparelhos eletrônicos", lamentou.
Rita Calegari, psicóloga, em entrevista recente, frisou que, para evitar dependência em mídias sociais, é preciso que os pais estejam atentos. "Não existe regras de horários. O que não pode faltar é o diálogo, o olho no olho com os filhos. Cada momento com longe de aparelhos eletrônicos, devem ser bem aproveitados, como fazer um bolo, jogar bola, soltar pipa, ir à praia, a uma feira de artesanato, ou a um parque", ensinou. O DIA
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